Pode não ser uma bolha mas tem mau aspecto
29 Julho2011 | 11:32
João Cândido da Silva - joaosilva@negocios.pt
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Quando o tema é o sector imobiliário, aquilo que se tem escutado nos tempos mais recentes são vozes a garantir que Portugal não é Espanha, nem a Irlanda.
Em terras lusitanas, tudo estaria tranquilo porque não existe, nem se prevê que venha a existir, uma "bolha" imobiliária. Esta é a realidade ou apenas o desejo de que fosse esta a realidade?
A percepção de que o país tem muitos problemas graves mas que, entre eles, não se contabilizam quaisquer consequências de eventuais excessos no imobiliário, supera fronteiras. Ontem, um artigo publicado na revista alemã "Der Spiegel", sobre a actual situação da economia portuguesa, enumerava as principais deficiências nacionais e identificava áreas em que o país devia apostar para aumentar o ritmo de crescimento. Para sublinhar que, por cá, nem tudo estava tão assustador como noutros mercados, subscrevia a tese de que, no imobiliário, não se vislumbram fenómenos semelhantes àquele que, noutras paragens, é apelidado de "bolha".
É um facto que os preços da habitação em Portugal não registaram as quedas violentas que se verificaram em Espanha. E é certo que os bancos portugueses não entraram em cavalarias, enquanto as instituições financeiras de outras economias se entretinham a empacotar créditos hipotecários e a passá-los para terceiros com a chancela de risco de boa qualidade concedida pelas agências de "rating". Mas se há "bolhas" que estouram de forma estrepitosa, há outras que crescem com lentidão e alastram como um veneno administrado em pequenas doses de cada vez.
A acumulação de sinais sobre a "bolha" portuguesa, cozinhada em lume brando, está à vista. Os dados recolhidos pelo Instituto Nacional de Estatística revelam que as avaliações das casas estão, actualmente, ao nível a que se encontravam há nove anos.
Na região de Lisboa, exemplo de um mercado em que a procura exerceu uma forte pressão sobre os preços durante a era do dinheiro de acesso fácil e a baixo custo, o valor médio do metro quadrado tombou quase 5% durante o mês passado. Se estivesse em causa a qualificação de uma descida daquela amplitude num índice de bolsa, a expressão "mini-crash" poderia ser usada sem temer exageros.
Tudo indica que o arrefecimento vai prosseguir. O aumento da taxa de desemprego nos próximos anos, a subida de tarifas em serviços essenciais e a redução do rendimento disponível das famílias, por via dos cortes salariais e da voracidade fiscal, vão continuar a provocar apertos no consumo. Mas também irão adiar decisões de investimento como a compra de habitação própria, sobretudo numa altura em que cresce o número de proprietários que cessam o pagamento das quotas de condomínio para terem condições de honrar os compromissos com os créditos contraídos.
No mercado português já existem, hoje, 350 mil casas disponíveis à espera de compradores que surjam para as arrematar. E não se espera que uma milagrosa vaga de imigração venha a reequilibrar a situação do mercado. Se o cruzamento entre a escassez de procura e a abundância de oferta for decisivo para fixar os preços, estes só poderão descer ainda mais. Pode chamar-se-lhe "bolha", "borbulha" ou um pequeno incómodo. Mas que tem mau aspecto, tem.
A percepção de que o país tem muitos problemas graves mas que, entre eles, não se contabilizam quaisquer consequências de eventuais excessos no imobiliário, supera fronteiras. Ontem, um artigo publicado na revista alemã "Der Spiegel", sobre a actual situação da economia portuguesa, enumerava as principais deficiências nacionais e identificava áreas em que o país devia apostar para aumentar o ritmo de crescimento. Para sublinhar que, por cá, nem tudo estava tão assustador como noutros mercados, subscrevia a tese de que, no imobiliário, não se vislumbram fenómenos semelhantes àquele que, noutras paragens, é apelidado de "bolha".
É um facto que os preços da habitação em Portugal não registaram as quedas violentas que se verificaram em Espanha. E é certo que os bancos portugueses não entraram em cavalarias, enquanto as instituições financeiras de outras economias se entretinham a empacotar créditos hipotecários e a passá-los para terceiros com a chancela de risco de boa qualidade concedida pelas agências de "rating". Mas se há "bolhas" que estouram de forma estrepitosa, há outras que crescem com lentidão e alastram como um veneno administrado em pequenas doses de cada vez.
A acumulação de sinais sobre a "bolha" portuguesa, cozinhada em lume brando, está à vista. Os dados recolhidos pelo Instituto Nacional de Estatística revelam que as avaliações das casas estão, actualmente, ao nível a que se encontravam há nove anos.
Na região de Lisboa, exemplo de um mercado em que a procura exerceu uma forte pressão sobre os preços durante a era do dinheiro de acesso fácil e a baixo custo, o valor médio do metro quadrado tombou quase 5% durante o mês passado. Se estivesse em causa a qualificação de uma descida daquela amplitude num índice de bolsa, a expressão "mini-crash" poderia ser usada sem temer exageros.
Tudo indica que o arrefecimento vai prosseguir. O aumento da taxa de desemprego nos próximos anos, a subida de tarifas em serviços essenciais e a redução do rendimento disponível das famílias, por via dos cortes salariais e da voracidade fiscal, vão continuar a provocar apertos no consumo. Mas também irão adiar decisões de investimento como a compra de habitação própria, sobretudo numa altura em que cresce o número de proprietários que cessam o pagamento das quotas de condomínio para terem condições de honrar os compromissos com os créditos contraídos.
No mercado português já existem, hoje, 350 mil casas disponíveis à espera de compradores que surjam para as arrematar. E não se espera que uma milagrosa vaga de imigração venha a reequilibrar a situação do mercado. Se o cruzamento entre a escassez de procura e a abundância de oferta for decisivo para fixar os preços, estes só poderão descer ainda mais. Pode chamar-se-lhe "bolha", "borbulha" ou um pequeno incómodo. Mas que tem mau aspecto, tem.
joaosilva@negocios.pt
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