Hermínia Saraiva
20/09/13 00:06
A tecnologia que muda a internet Realtime
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Há cada vez mais turistas a chegar a Cascais. O concelho recebeu em 2012 1,1 milhões de visitantes estrangeiros.
Em volta ouve-se falar inglês, alemão, espanhol, dinamarquês, finlandês e, a espaços, algumas palavras em português. Cascais é uma espécie de Babel junto ao mar, onde já se sente o final da estação, mas onde os estrangeiros são uma constante, seja Verão ou Inverno. Principalmente agora que autocarros trazem os turistas dos cruzeiros que atracam em Lisboa.
"Se vêm para comprar ou não isso é outra coisa, mas pelo menos estão cá." Paula Perdiz é gerente da Marazzi, um negócio da família, e sabe, como muitos dos comerciantes da cidade, que as receitas dependem principalmente do turismo. Os estrangeiros são o motor de crescimento do concelho, por vezes factor de sobrevivência. Cascais recebeu no ano passado 1,137 milhões de turistas, diz a autarquia, com base no Estoril Data Monitor. E ainda que Portugal e Espanha continuem a ser os principais mercados emissores, Alemanha, Escandinávia, Bélgica, França e Estados Unidos têm vindo a ganhar dimensão. E quem vem passa cada vez mais tempo no concelho, que regista uma estadia média superior a três dias.
"Se chega um barco de alemães ou russo óptimo, se chega um barco com americanos é igual a zero", diz Maria Teresa, gerente da Style Season, loja onde o espaço se faz curto no meio de caixas acabadas de chegar e ainda por arrumar. "Neste momento, como o negócio está, não se conseguem ter empregados." Isto num concelho em que a taxa de desemprego ronda os 7,8%.
Aqui, na rua Direita, principal artéria comercial de Cascais, as opiniões dividem-se quanto as competências de Carlos Carreiras, autarca do PSD à frente da Câmara desde 2011. Maria Teresa diz que "de todos os presidentes é o que tem feito mais por Cascais. Não tenho nada contra o Capucho, mas só se interessava por cultura". Já Paula Perdiz defende que há muito para fazer, principalmente em matéria de trânsito: "Não há indicações e quem vem de Lisboa ou sabe o caminho ou perde-se em direcção ao Guincho."
Há quem tenha outras queixas. No Mercado da Vila, Catarina Sande e Castro, arquitecta, lembra que Cascais não é só o centro, as praias, o turismo, ainda que lhe reconheça a importância económica. "O resto do conselho está ligeiramente esquecido. Agora com as eleições tem-se acordado um bocadinho, mas há muito mais a fazer, fazem falta jardins infantis, skateparks, mais sítios para os jovens." E até em matéria de turismo a autarquia podia fazer mais. "As lojas podiam estar abertas até mais tarde, podiam melhorar o serviço e o tipo de lojas. E podia haver mais eventos, mais adaptados ao turismo."
Cascais tem sido palco, ou servido de apoio a inúmeras provas de vela, tem o Estoril Open, recebeu em 2012 o encontro europeu de motos Harley Davidson, organizou a etapa portuguesa do Global Champions Tour. "Mesmo que nesses dias não se trabalhe muito, há uma grande divulgação do concelho em canais como o EuroSport", diz Paula Perdiz. O Turismo de Portugal contabilizava em 2012 o retorno destas actividades para a autarquia em 37 milhões de euros, com um investimento que terá rondado os 600 mil.
Na Marina de Cascais, palco fundamental de alguns destes eventos, o silêncio impera. É uma altura atípica. Uma manhã, a meio da semana, com a época escolar a dar os primeiros passos e o turismo de massas afastado até ao próximo ano, mas Armando Simões, proprietário do restaurante ‘Pirata" diz que é sempre assim. "A marina não funciona, chega aqui e vê que está tudo abandonado", lamenta.
"Foi mal projectada, não tem vida própria, a maior parte das marinas tem espaço imobiliário próprio, aqui não. Aqui as pessoas têm que vir de propósito." Apesar do discurso catastrofista, Armando Simões acaba por reconhecer que "as poucas casas que aqui estão trabalham bem, mas a despesa é muito grande". Só o restaurante paga 1.200 euros mensais de condomínio, fora as despesas com empregados, água, luz e a subida do IVA. "Isso sim, é o que nos vai matar a todos."
Em volta, há muitas lojas fechadas, as montras cobertas por autocolantes que não deixam ver o interior. Já perto do mar, a taxa de utilização é maior. Há várias lojas de equipamento náutico, aluguer de barcos ou de passeios turísticos. O dono da Nautistar, Domingos Carvalho, aparenta não ter razões de queixa quanto ao funcionamento da Marina a não ser por um ou dois pormenores.
"O aumento dos preços não é compatível com o estado do país", diz Domingos Carvalho que garante que é, a seguir à MarCascais, sociedade concessionária da Marina, o principal investidor naquele espaço. Além desta loja, tem um minimercado e uma bomba de gasolina, essenciais para que a marina não perca o estatuto, e por causa dos quais "tem uma parceria" com a MarCascais. "A marina tem vindo a melhorar. Há três anos estava muito pior e não há nenhuma marina que tenha sucesso antes dos 10 ou 15 anos", afirma. A de Cascais, inaugurada em 1999, comemorou no mês passado o 14.º aniversário.
De Cascais ao Estoril são três quilómetros. É este o eixo que durante décadas foi ponto de encontro da realeza e classe política europeias e que nunca perdeu o esplendor. No Estoril, no topo do relvado que se estende quase até ao mar, o Casino continua a ser um dos locais escolhidos por turistas com poder de compra. Agora são os angolanos, russos e chineses a dar cartas e a aumentar as receitas, contabiliza Mario Assis Ferreira, administrador não-executivo do Casino do Estoril.
"Cascais tem uma áurea de prestígio que, num período em que o Mundo está particularmente agitado, há certos segmentos de clientes como sejam os provenientes de Angola, China e Rússia, que optam pelo Estoril ou Cascais. E isso reflectiu-se este ano, pela primeira vez, nas receitas de jogos bancados", explica, acrescentando que as receitas de jogos como a Roleta ou o Black Jack, estão a crescer 2%, enquanto a facturação das ‘slot machines' já acumula para perda de 10%. O Casino é, além de "um dos maiores empregadores do concelho, [tem 650 empregados], fora aqueles que foram transferidos do Estoril para o Casino de Lisboa", um dos principais contribuintes para as contas da autarquia. Sem quantificar, Mário Assis Ferreira, garante que "são vários milhões" que o Estado entrega à Câmara de Cascais, Oeiras, Sintra e Mafra, depois de pago um imposto de 50% sobre o total da receita bruta anual.
Em volta ouve-se falar inglês, alemão, espanhol, dinamarquês, finlandês e, a espaços, algumas palavras em português. Cascais é uma espécie de Babel junto ao mar, onde já se sente o final da estação, mas onde os estrangeiros são uma constante, seja Verão ou Inverno. Principalmente agora que autocarros trazem os turistas dos cruzeiros que atracam em Lisboa.
"Se vêm para comprar ou não isso é outra coisa, mas pelo menos estão cá." Paula Perdiz é gerente da Marazzi, um negócio da família, e sabe, como muitos dos comerciantes da cidade, que as receitas dependem principalmente do turismo. Os estrangeiros são o motor de crescimento do concelho, por vezes factor de sobrevivência. Cascais recebeu no ano passado 1,137 milhões de turistas, diz a autarquia, com base no Estoril Data Monitor. E ainda que Portugal e Espanha continuem a ser os principais mercados emissores, Alemanha, Escandinávia, Bélgica, França e Estados Unidos têm vindo a ganhar dimensão. E quem vem passa cada vez mais tempo no concelho, que regista uma estadia média superior a três dias.
"Se chega um barco de alemães ou russo óptimo, se chega um barco com americanos é igual a zero", diz Maria Teresa, gerente da Style Season, loja onde o espaço se faz curto no meio de caixas acabadas de chegar e ainda por arrumar. "Neste momento, como o negócio está, não se conseguem ter empregados." Isto num concelho em que a taxa de desemprego ronda os 7,8%.
Aqui, na rua Direita, principal artéria comercial de Cascais, as opiniões dividem-se quanto as competências de Carlos Carreiras, autarca do PSD à frente da Câmara desde 2011. Maria Teresa diz que "de todos os presidentes é o que tem feito mais por Cascais. Não tenho nada contra o Capucho, mas só se interessava por cultura". Já Paula Perdiz defende que há muito para fazer, principalmente em matéria de trânsito: "Não há indicações e quem vem de Lisboa ou sabe o caminho ou perde-se em direcção ao Guincho."
Há quem tenha outras queixas. No Mercado da Vila, Catarina Sande e Castro, arquitecta, lembra que Cascais não é só o centro, as praias, o turismo, ainda que lhe reconheça a importância económica. "O resto do conselho está ligeiramente esquecido. Agora com as eleições tem-se acordado um bocadinho, mas há muito mais a fazer, fazem falta jardins infantis, skateparks, mais sítios para os jovens." E até em matéria de turismo a autarquia podia fazer mais. "As lojas podiam estar abertas até mais tarde, podiam melhorar o serviço e o tipo de lojas. E podia haver mais eventos, mais adaptados ao turismo."
Cascais tem sido palco, ou servido de apoio a inúmeras provas de vela, tem o Estoril Open, recebeu em 2012 o encontro europeu de motos Harley Davidson, organizou a etapa portuguesa do Global Champions Tour. "Mesmo que nesses dias não se trabalhe muito, há uma grande divulgação do concelho em canais como o EuroSport", diz Paula Perdiz. O Turismo de Portugal contabilizava em 2012 o retorno destas actividades para a autarquia em 37 milhões de euros, com um investimento que terá rondado os 600 mil.
Na Marina de Cascais, palco fundamental de alguns destes eventos, o silêncio impera. É uma altura atípica. Uma manhã, a meio da semana, com a época escolar a dar os primeiros passos e o turismo de massas afastado até ao próximo ano, mas Armando Simões, proprietário do restaurante ‘Pirata" diz que é sempre assim. "A marina não funciona, chega aqui e vê que está tudo abandonado", lamenta.
"Foi mal projectada, não tem vida própria, a maior parte das marinas tem espaço imobiliário próprio, aqui não. Aqui as pessoas têm que vir de propósito." Apesar do discurso catastrofista, Armando Simões acaba por reconhecer que "as poucas casas que aqui estão trabalham bem, mas a despesa é muito grande". Só o restaurante paga 1.200 euros mensais de condomínio, fora as despesas com empregados, água, luz e a subida do IVA. "Isso sim, é o que nos vai matar a todos."
Em volta, há muitas lojas fechadas, as montras cobertas por autocolantes que não deixam ver o interior. Já perto do mar, a taxa de utilização é maior. Há várias lojas de equipamento náutico, aluguer de barcos ou de passeios turísticos. O dono da Nautistar, Domingos Carvalho, aparenta não ter razões de queixa quanto ao funcionamento da Marina a não ser por um ou dois pormenores.
"O aumento dos preços não é compatível com o estado do país", diz Domingos Carvalho que garante que é, a seguir à MarCascais, sociedade concessionária da Marina, o principal investidor naquele espaço. Além desta loja, tem um minimercado e uma bomba de gasolina, essenciais para que a marina não perca o estatuto, e por causa dos quais "tem uma parceria" com a MarCascais. "A marina tem vindo a melhorar. Há três anos estava muito pior e não há nenhuma marina que tenha sucesso antes dos 10 ou 15 anos", afirma. A de Cascais, inaugurada em 1999, comemorou no mês passado o 14.º aniversário.
De Cascais ao Estoril são três quilómetros. É este o eixo que durante décadas foi ponto de encontro da realeza e classe política europeias e que nunca perdeu o esplendor. No Estoril, no topo do relvado que se estende quase até ao mar, o Casino continua a ser um dos locais escolhidos por turistas com poder de compra. Agora são os angolanos, russos e chineses a dar cartas e a aumentar as receitas, contabiliza Mario Assis Ferreira, administrador não-executivo do Casino do Estoril.
"Cascais tem uma áurea de prestígio que, num período em que o Mundo está particularmente agitado, há certos segmentos de clientes como sejam os provenientes de Angola, China e Rússia, que optam pelo Estoril ou Cascais. E isso reflectiu-se este ano, pela primeira vez, nas receitas de jogos bancados", explica, acrescentando que as receitas de jogos como a Roleta ou o Black Jack, estão a crescer 2%, enquanto a facturação das ‘slot machines' já acumula para perda de 10%. O Casino é, além de "um dos maiores empregadores do concelho, [tem 650 empregados], fora aqueles que foram transferidos do Estoril para o Casino de Lisboa", um dos principais contribuintes para as contas da autarquia. Sem quantificar, Mário Assis Ferreira, garante que "são vários milhões" que o Estado entrega à Câmara de Cascais, Oeiras, Sintra e Mafra, depois de pago um imposto de 50% sobre o total da receita bruta anual.
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