"Intouchables"
Cada dia que passa fornece argumentos à minha convicção de que o primeiro sintoma da "sabedoria" é a capacidade de relativizar. O que não consigo explicar é por que é que encontro esse sintoma, predominantemente, nas crianças e numa certa juventude ligeira, como, a nível planetário, o entrevejo sobretudo nas "civilizações" que, na visão ocidental, parecem menos "maduras". Refiro-me à relativização ou simplificação do grande problema que é a própria vida; a uma certa intuição prática de que, apesar de milénios de apuramento, a nossa individualidade importa para o concerto do mundo o mesmo que uma formiga importa para um formigueiro.
Tudo isto para dizer que, após largos meses de resistência - há temas incómodos - vi o filme que já toda a gente viu: "Intouchables". A tradução portuguesa chamou-lhe, salvo erro, "Amigos Improváveis". É um filme francês (não sei se poderia ser outra coisa) e conta-nos a história da relação entre um adulto, Philippe, a que um acidente provocou uma tetraplegia, e o rapaz Driss que é contratado para ser "os seus braços e as suas pernas". A história, informam-nos, inspira-se em factos reais. E é um exemplo de desdramatização, de contenção de sentimentalidades balofas, de bom humor, de optimismo - de "pragmatismo", remataria Driss - que nos estimula logo a bem-fazer. Cada um de nós só realmente vale pelo que dá e como (ai este "como"!) dá; não pelo que recebe. Gostava de ter aprendido de vez a lição, ou as muitas lições dos "Intouchables".
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