Paul de Grauwe: Portugal errou ao querer ganhar o concurso de beleza da austeridade
10 Novembro 2013, 15:47 por Lusa
O economista Paul de Grauwe entende que Portugal cometeu o "erro" de ser o melhor aluno da troika, quando a economia estaria melhor se assim não fosse, e defende um lóbi do Sul da Europa para mudar políticas europeias.
"O governo português fez o grande erro de tentar ser o melhor da turma no concurso de beleza da austeridade. Não havia razão para Portugal fazer isso, podia não ser o melhor da turma, podia ser mesmo o pior e isso seria melhor para economia", considerou em entrevista à Lusa o economista belga, para quem Portugal tinha de levar a cabo medidas para reduzir a despesa, mas ao longo de mais anos, de modo a suavizar o impacto económico.
Até economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), afirmou, já perceberam que não é possível "fazer a austeridade toda ao mesmo tempo", enquanto na Europa os líderes continuam imutáveis.
"Portugal e outros países do Sul da Europa deviam unir-se e dizer que a maneira como os tratam não é aceitável. Quando Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha levam a cabo medidas de austeridade, os outros países do Norte da Europa deviam fazer o inverso e estimular a economia. Vocês têm influência na Comissão Europeia, mas não a usam", disse Paul de Grauwe.
Para o economista, se os países com contas públicas mais fortes fomentassem a expansão, isso contrariaria a contracção orçamental dos países da periferia, equilibrando a economia europeia.
O excedente comercial (diferença entre exportações e importações) da Alemanha, que atingiu um valor histórico em Setembro de 20,4 mil milhões de euros, também é um problema para Paul de Grauwe, já que "se uns têm excedentes, outros têm défices".
No início do mês, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos já criticou a Alemanha por usar a crise para fomentar excessivamente as exportações, o que obriga os países da periferia a um ajustamento excessivo. Também o FMI veio entretanto dizer que a Alemanha podia contribuir para a estabilização da economia da Zona Euro se aumentasse o consumo interno.
Para o economista, toda a Europa devia estar comprometida em fazer os países como Portugal saírem da recessão económica, já que o endividamento não é só culpa destes, até porque para haver quem deve tem de haver quem empresta.
"A Zona Euro tornou-se um sistema em que a nações creditícias mandam. Mas a responsabilidade da crise não é só dos devedores, mas também dos credores. Por isso, a Comissão Europeia devia intervir no interesse dos credores e também dos devedores", considerou.
Sobre se deve ser colocado um limite ao défice e endividamento da Constituição portuguesa, Paul de Grauwe rejeitou de imediato, considerando que "não faz qualquer sentido", já que haverá sempre períodos em que os países têm de aumentar o seu endividamento para acomodar as crises cíclicas e proteger os cidadãos.
"O capitalismo é um sistema fantástico, mas muito instável, que produz altos e baixos, períodos de optimismo e pessimismo, e nos baixos o Governo tem de juntar as peças e os défices necessariamente aumentam. Precisamos de Governos que protejam os cidadãos, que os ajudem [quando estão mal]. Se não o fizerem, a legitimidade dos Governos fica em causa", explicou.
O economista Paul de Grauwe está em Lisboa para participar na conferência que assinala os 25 anos do INDEG, a escola de negócios do ISCTE -- Instituto Universitário de Lisboa.
“Não acho que consiga sair do problema hoje sem uma reestruturação da dívida”
“Portugal tem tanta austeridade que a dívida se tornou insustentável, algo tem de ser feito. Não acho que consiga sair do problema hoje sem uma reestruturação da dívida”, avançou Paul de Grauwe, frisando que o Presidente da República, Cavaco Silva, está a “fechar os olhos à realidade” ao afirmar que é “masoquismo” dizer que a dívida portuguesa não é sustentável.
O economista lembrou que há uns anos Portugal era um país solvente e que as políticas austeritárias empurraram o país para a recessão económica e aumentaram de tal forma o endividamento que agora corre o risco de não conseguir pagar a sua dívida. “Um novo programa de austeridade vai empurrar Portugal para a insolvência”, alertou, frisando que a mesma é “inevitável” quando o país “foi posto numa austeridade tão intensa que se tornou contra produtiva” para a economia.
“Dizem aos portugueses que têm de fazer mais sacrifícios. Para quê? Para pagar a dívida aos países ricos do Norte [da Europa]. Isto será explosivo, os portugueses não vão aceitar isso indefinidamente”, destacou.
Necessidade de reformas estruturais em Portugal é um “mito”
Para o economista belga, “o problema hoje não está do lado da oferta da economia e as reformas estruturais lidam com isso”. “Claro que temos de ser mais eficientes, mas o problema é que mandamos abaixo a procura e em resultado a economia não cresce. Temos de alterar isso”, salientou. “Vocês [em Portugal] fizeram reformas estruturais, flexibilizaram, reformaram o mercado trabalho e não resultou. Porque o problema está do lado da procura”, rematou Paul de Grauwe.
Até economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), afirmou, já perceberam que não é possível "fazer a austeridade toda ao mesmo tempo", enquanto na Europa os líderes continuam imutáveis.
"Portugal e outros países do Sul da Europa deviam unir-se e dizer que a maneira como os tratam não é aceitável. Quando Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha levam a cabo medidas de austeridade, os outros países do Norte da Europa deviam fazer o inverso e estimular a economia. Vocês têm influência na Comissão Europeia, mas não a usam", disse Paul de Grauwe.
Para o economista, se os países com contas públicas mais fortes fomentassem a expansão, isso contrariaria a contracção orçamental dos países da periferia, equilibrando a economia europeia.
O excedente comercial (diferença entre exportações e importações) da Alemanha, que atingiu um valor histórico em Setembro de 20,4 mil milhões de euros, também é um problema para Paul de Grauwe, já que "se uns têm excedentes, outros têm défices".
No início do mês, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos já criticou a Alemanha por usar a crise para fomentar excessivamente as exportações, o que obriga os países da periferia a um ajustamento excessivo. Também o FMI veio entretanto dizer que a Alemanha podia contribuir para a estabilização da economia da Zona Euro se aumentasse o consumo interno.
Para o economista, toda a Europa devia estar comprometida em fazer os países como Portugal saírem da recessão económica, já que o endividamento não é só culpa destes, até porque para haver quem deve tem de haver quem empresta.
"A Zona Euro tornou-se um sistema em que a nações creditícias mandam. Mas a responsabilidade da crise não é só dos devedores, mas também dos credores. Por isso, a Comissão Europeia devia intervir no interesse dos credores e também dos devedores", considerou.
Sobre se deve ser colocado um limite ao défice e endividamento da Constituição portuguesa, Paul de Grauwe rejeitou de imediato, considerando que "não faz qualquer sentido", já que haverá sempre períodos em que os países têm de aumentar o seu endividamento para acomodar as crises cíclicas e proteger os cidadãos.
"O capitalismo é um sistema fantástico, mas muito instável, que produz altos e baixos, períodos de optimismo e pessimismo, e nos baixos o Governo tem de juntar as peças e os défices necessariamente aumentam. Precisamos de Governos que protejam os cidadãos, que os ajudem [quando estão mal]. Se não o fizerem, a legitimidade dos Governos fica em causa", explicou.
O economista Paul de Grauwe está em Lisboa para participar na conferência que assinala os 25 anos do INDEG, a escola de negócios do ISCTE -- Instituto Universitário de Lisboa.
“Não acho que consiga sair do problema hoje sem uma reestruturação da dívida”
“Portugal tem tanta austeridade que a dívida se tornou insustentável, algo tem de ser feito. Não acho que consiga sair do problema hoje sem uma reestruturação da dívida”, avançou Paul de Grauwe, frisando que o Presidente da República, Cavaco Silva, está a “fechar os olhos à realidade” ao afirmar que é “masoquismo” dizer que a dívida portuguesa não é sustentável.
O economista lembrou que há uns anos Portugal era um país solvente e que as políticas austeritárias empurraram o país para a recessão económica e aumentaram de tal forma o endividamento que agora corre o risco de não conseguir pagar a sua dívida. “Um novo programa de austeridade vai empurrar Portugal para a insolvência”, alertou, frisando que a mesma é “inevitável” quando o país “foi posto numa austeridade tão intensa que se tornou contra produtiva” para a economia.
“Dizem aos portugueses que têm de fazer mais sacrifícios. Para quê? Para pagar a dívida aos países ricos do Norte [da Europa]. Isto será explosivo, os portugueses não vão aceitar isso indefinidamente”, destacou.
Necessidade de reformas estruturais em Portugal é um “mito”
Para o economista belga, “o problema hoje não está do lado da oferta da economia e as reformas estruturais lidam com isso”. “Claro que temos de ser mais eficientes, mas o problema é que mandamos abaixo a procura e em resultado a economia não cresce. Temos de alterar isso”, salientou. “Vocês [em Portugal] fizeram reformas estruturais, flexibilizaram, reformaram o mercado trabalho e não resultou. Porque o problema está do lado da procura”, rematou Paul de Grauwe.
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