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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Vale a pena ler....

Mohammed bin Rashid Al Maktoum
O regresso dos cérebros
04 Julho 2014, 17:19 por Mohammed bin Rashid Al Maktoum
Em 1968, enquanto estudava na Mons Officer Cadet School, no Reino Unido, precisei de ir a um hospital. Aí encontrei um médico que, para minha surpresa, falava árabe de forma fluente. Percebi que estava há pouco tempo no Reino Unido, e perguntei-lhe se pretendia ficar por muito tempo ou voltar para casa. Ele respondeu-me com um provérbio árabe que se pode traduzir desta forma: "A minha casa é onde eu puder comer".
As palavras daquele médico permaneceram comigo durante muitos anos, porque sublinhavam a contradição entre a nossa visão idealizada de "casa" e a dura realidade da vida, que força pessoas talentosas a deixarem as suas casas.

O médico era um caso clássico do fenómeno de "fuga de cérebros" que afecta, há várias décadas, os países em desenvolvimento. Estes países gastam os seus parcos recursos a educar médicos, engenheiros e cientistas, na esperança de que se tornem motores da prosperidade. Depois, assistimos consternados à sua migração para o Ocidente, levando com eles a promessa do seu talento.

Claro que todos têm o direito de escolher uma vida melhor, em qualquer parte do mundo. Percebemos porque vão. O talento é atraído – como um íman – pela oportunidade.

No entanto, para os países que são deixados para trás, isto parece um infindável ciclo vicioso: eles precisam de talento para criar oportunidades; mas sem oportunidades, o talento gravita nas luzes brilhantes do Ocidente. Na verdade, as Nações Unidas e a OCDE relatam que a migração laboral aumentou um terço desde 2000. Um em cada nove licenciados provenientes de África vive e trabalha agora no Ocidente. Muitos não voltarão: os trabalhadores qualificados têm seis vezes mais probabilidades de permanecerem longe.

Mas, agora, está a acontecer uma coisa notável. Em alguns países, a fuga de cérebros inverteu a direcção. As causas são fascinantes, e há razões para estarmos optimistas quanto à possibilidade de o ciclo vicioso ser quebrado, transformando o equilíbrio da esperança e da oportunidade entre as economias desenvolvidas e as economias em desenvolvimento.

Um novo estudo da LinkedIn, a maior rede profissional e plataforma de recrutamento online do mundo, mediu o movimento internacional líquido do talento através dos seus membros. No topo da lista dos destinos para o talento está o meu próprio país, os Emirados Árabes Unidos, com um ganho líquido de talentos de 1,3% da força laboral em 2013. Outros "ímanes de talento" líquidos incluem a Arábia Saudita, a Nigéria, a África do Sul, a Índia e o Brasil.

Mais interessante ainda é que menos de um terço dos importadores de talento são países desenvolvidos. Com efeito, os maiores exportadores de talento neste estudo são Espanha, Reino Unido, França, Estados Unidos, Itália e Irlanda. Países ricos que até agora tentavam as nossas mentes mais brilhantes estão agora a enviar-nos as suas.
Claro que este é apenas um estudo, e muitos países pobres ainda sofrem de um êxodo crónico de talentos. Dados da OCDE mostram que muitos países de África e da América Latina têm taxas de migração de licenciados superiores a 50%.

Sabemos que a fuga de cérebros também está ligada à segurança, tanto quanto às oportunidades económicas. Parte da tragédia que decorre nos países do Médio Oriente, assolados por conflitos e instabilidade, é que se os seus filhos e filhas mais talentosos pudessem aplicar as suas capacidades em casa, então poderiam tornar-se parte da solução: agentes da paz através do desenvolvimento. Isso torna cada vez mais importante perceber de que forma alguns países em desenvolvimento conseguiram inverter a tendência de saída.

O ingrediente básico é a oportunidade. O talento flui naturalmente para países que criam um ambiente para o crescimento económico, que facilitam a vida empresarial, que atraem e saúdam o investimento e que apoiam uma cultura de realizações. As capacidades são atraídas pelo desafio e pela possibilidade.

As oportunidades a esta escala estão a tornar-se cada vez mais escassas em muitas partes do Ocidente. O mesmo não acontece no mundo em desenvolvimento – pelo menos entre os países com o apetite e a determinação para aplicar uma governação forte e aumentar continuamente a sua competitividade.

Em segundo lugar, a qualidade de vida também importa muito. Há uma geração, muitos indivíduos talentosos considerariam uma "colocação difícil" trabalhar fora do Ocidente Hoje, os padrões de vida nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, estão entre os mais elevados do mundo. Mostrámos que inverter a fuga de cérebros é criar uma vida melhor para cidadãos e residentes. Construir felicidade é, afinal, a missão de todos os bons governos em toda a parte.

A nossa história representa uma grande esperança para o Médio Oriente em particular, onde gerações de conflito e desespero levaram a níveis elevados de migrações. Sempre defendi que, além da boa governação, as melhores soluções para as divisões e tumultos do mundo árabe residem no desenvolvimento de condições básicas e nas oportunidades económicas. Agora, mostrámos que é possível reverter as forças que afastaram os nossos jovens mais talentosos.

Uma outra fonte de esperança é a velocidade com que esta reviravolta pode acontecer. Estudos mostram que os países pequenos sofrem de forma desproporcional com a fuga de cérebros. Mas mostrámos que mesmo para um pequeno país como os Emirados Árabes Unidos, e mesmo numa região dividida pelo conflito, vale a pena construir uma ilha de oportunidades.

Mas deixem-me ser claro: reverter a fuga de cérebros é mais do que estancar uma sangria. Significa transformar um ciclo vicioso num ciclo virtuoso. Ao atrair o melhor talento de todo o mundo, poderemos criar uma sociedade vibrante e diversa que fomente a inovação e a prosperidade – o que por sua vez atrairá ainda mais talento.

Para fazer com que isto funcione, temos de acreditar nas pessoas. Os seres humanos – as suas ideias, inovações, sonhos e ligações – são o capital do futuro. Neste sentido, o "regresso dos cérebros" é menos um propósito em si do que um indicador de desenvolvimento, porque onde se reúnem hoje as grandes mentes, acontecerão amanhã grandes coisas.

Mohammed bin Rashid Al Maktoum é vice-presidente e primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos e Governante do Dubai.
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2014.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria

 

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